Que assim vagueias pálido e sozinho?
O junco à beira-lago já secou;
Não canta um passarinho.
Ah! que pode afligir-te, infortunado,
De feição macilenta e assim desfeita?
O celeiro do esquilo está repleto,
E finda está a colheita.
Um lírio nessa testa eu bem o vejo,
De suor de febre e de aflição molhado;
E uma rosa que murcha em tua face
Logo terá secado.
Uma dama nos prados encontrei,
Todo-formosa, filha de uma fada:
A cabeleira longa, os pés ligeiros,
A vista descuidada.
Tomei-a em meu corcel de passo lento,
E o dia inteiro nada mais vi, não;
Pois pendida de lado ela cantava
De fada uma canção.
Eu fiz-lhe uma grinalda para a fronte,
E pulseiras e um cinto redolente;
Ela me olhou com ar de quem amasse,
Gemendo suavemente.
Procurou para mim raízes doces,
Orvalho de maná e mel do mato;
E numa língua estranha murmurou:
"Eu amo-te de fato".
Levou-me para a sua gruta mágica,
E com suspiros fundos me fitou;
Fechei-lhe os olhos tristes, descuidados,
- Meu beijo a acalentou.
Na gruta, sobre o musgo, nós dormimos,
E ali sonhei - que triste a minha sina!-
O último sonho que haja eu sonhado
No frio da colina.
Guerreiros, e reis pálidos, e príncipes,
Todos, de morte pálidos, eu vi,
E me diziam: - "Pôs-te em cativeiro
La belle Dame sans merci".
Com o negro aviso, seus famintos lábios
Vi escancarar-se à sombra vespertina;
E despertando me encontrei aqui,
No frio da colina.
E este é o motivo pelo qual eu me acho
Aqui, vagando pálido e sozinho,
Malgrado, seco o junco à beira-lago,
Não cante um passarinho.
(Extraído de "Ode sobre a melancolia e outros poemas", da editora Hedra. Tradução e organização de Péricles Eugênio da Silva Ramos.)
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ResponderExcluirMuito bom seu blog! Gosto muito! Obrigada
ResponderExcluirconceiçao roseiro