Ao Verão
Ó tu, que percorres nossos vales, com
Tua força, detém teus violentos corcéis, amaina as flamas
Que se arrojam por suas imensas narinas! Tu, Ó Verão,
Várias vezes aqui erguestes tua tenda dourada, pois muito
Temos dormido sob nossos carvalhos, contemplando
Com alegria teus rubros membros e tua opulenta cabeleira.
Nas paragens mais sombrias, muitas vezes escutamos
Tua voz, quando o sol sobre seu carro abrasador,
Percorre as profundezas do céu; Na beira de nossas fontes
Senta-te, e em nossos vales musgosos, à beira
De um cristalino regato, despe a tua túnica de
Seda e lança-te à corrente:
Nossos vales veneram o Verão em sua glória.
Nossos bardos, que tangem a corda de prata, são famosos
Nossa juventude é mais audaz que a do sul
Nossas donzelas são mais vivazes nas danças alegres
Não nos faltam canções ou instrumentos de prazer,
Nem doces ecos, nem águas claras como o céu
Nem coroas de louros frente teu calor sufocante.
(William Blake)
(A dança de Albion, de William Blake)
O pequeno vagabundo
Querida Mãe, Querida Mãe, a igreja é fria
Mas a taverna é saudável, agradável &quente;
E posso dizer que lá me tratam bem.
Pois nem no céu passaria tão bem.
Mas se na Igreja Cerveja pudessem dar
E um bom fogo a nossas almas regalar,
Por todo o dia rezaríamos &cantaríamos,
E da Igreja jamais nos afastaríamos.
Então o Pastor poderia pregar & beber & cantar
Seríamos tão felizes qual aves primaveris a voar,
E a Senhora Bebedeira, sempre na Igreja em oração,
Não teria filhos franzinos, nem jejum nem punição.
E Deus como um pai que se regozija em ver
Seus filhos como ele, amáveis e felizes a valer,
Não teria mais querelas com o Diabo e o Barril,
Mas lhe daria vestes, bebida &beijos mil.
(William Blake)
O Argumento (trecho)
Trinta e três anos após o surgimento do novo céu, o Eterno Inferno ressurge. Mas veja! Swedenborg é o anjo sentado sobre a cripta: Seus escritos são as vestes de linho dobradas. É chegado o domínio de Edom & o retorno de Adão ao Paraíso. Ver Isaías capítulos XXXIV e XXXV.
Sem Contrários não há evolução. Atração e Repulsão, Razão e Energia, Amor e Ódio são necessários à existência Humana.
Destes contrários nasce aquilo que o religioso denomina Bem & Mal. O Bem é o passivo que obedece a Razão. O Mal é o ativo que surge da Energia.
Bem é Céu. Mal é Inferno.
(William Blake)
*Swedenborg: Espiritualista e cientista sueco
(O Grande Dragão Vermelho e a Mulher Vestida no Sol, de William Blake)
William Blake (1757-1827) foi uma das mais singulares vozes da poesia inglesa. Além de poeta, também foi pintor e gravurista. Sua obra é marcada por uma poderosa aura mística e religiosa. Durante sua vida, afirmou ter presenciado várias manifestações espirituais: aos quatro anos de idade, disse ter vislumbrado a face de Deus numa janela. Mais tarde, passeando pelos campos de Peckam, viu uma árvore repleta de anjos. Também dizia ver o espírito do irmão morto.
Sobre Blake, falou o poeta William Wordsworth: "Não há dúvida de que este pobre homem era louco, mas há algo na loucura deste homem que me interessa mais do que a sanidade de Lord Byron e Walter Scott".
(Pietà, de William Blake)
Os textos "Ao Verão", "O pequeno vagabundo" e o trecho de "O Argumento" foram extraídos do livro "O casamento do céu e do inferno & outros escritos", da editora L&PM Pocket. Para mim foi uma leitura particularmente prazerosa, tanto que este se tornou um dos meus livros favoritos. ^^
De poesia a UFC, né Tayná?? Adorei o blog, muito bonito mesmo.
ResponderExcluirBeijos